terça-feira, 15 de novembro de 2016

Referências


ALMEIDA, Paulo Henrique de. A economia de Salvador e a formação de sua Região Metropolitana. A economia de Salvador e a formação de sua Região Metropolitana. In Salvador,2006. 

MATTA, Alfredo. História da Bahia: Licenciatura em História/ Alfredo Matta. Salvador: Eduneb, 2013.

PEDRÃO, Fernando. Novos e velhos elementos da formação social do Recôncavo da Bahia de Todos os Santos. Revistas do Centro de Artes, Humanidades e Letras, V.1, n.1 2007.

PEDRO, Antonio, LIMA, Lizânias de Souza, CARVALHO, Yone de . História do mundo ocidental:ensino médio: volume único – São Paulo : FTD, 2005.

SANTOS, Fábio Josué Souza (org). Recôncavo da Bahia: Educação, Cultura e Sociedade. Bahia: UFRB, 2009.

VASCONCELOS, Pedro de A. Salvador : transformações e permanências (1549-1999). Ilhéus, 2002.

                            http://inhata.blogspot.com.br/
                            http://www.ameliarodrigues.ba.gov.br/
Acesso em: 10 de novembro de 2016





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Minha avó Perolina da Costa Pinto Silva


Minha avó Peró


A publicação da história aqui apresentada foi autorizada pela minha avó Perolina da Costa Pinto Silva.

Possuidora de uma alegria contagiante e sabedoria invejável Perolina, ou melhor dizendo minha avó Peró é, antes de tudo, uma menina de espírito livre e sorriso fácil. Mãe de oito filhos, nasceu em 30 de outubro de 1922, casou-se aos vinte anos e exerceu uma variedade de profissões. Viveu em São Bento do Inhatá, Aliança, Amélia Rodrigues e hoje reside em Salvador.

Atualmente com 94 anos, Perolina possui oito filhos, além de netos e bisnetos que buscam através desses momentos conhecer um pouco mais sobre essa pessoa maravilhosa que é vovó Peró. Ela está sempre disposta a compartilhar suas histórias e recordações, por isso, deixo aqui o link do blog semanal que ela utiliza para escrever suas memórias:  https://quintacompero.wordpress.com/. Além de seu blog, minha querida vó escreveu dois livros: um em 2013 e outro em 2015, contando um pouco da sua história. Livros esses que foram distribuídos para familiares e amigos próximos.

Nessa publicação, trarei as recordações de minha avó sobre São Bento do Inhatá.


Minha avó tinha dez irmãos e seus pais eram bem humildes. Seu pai trabalhava como gerente de uma destilaria em São Francisco, um distrito de Berimbau (Conceição do Jacuípe). Depois eles se mudaram para São Bento do Inhatá, aonde minha avó viveu a maior parte de sua vida.

As viagens

Nessa época as viagens eram a pé de São Bento para outros distritos como Picado, Aliança e Traripe (Amélia Rodrigues). As vezes, era possível pegar carona em um carro de boi que passava pela estrada.

Sobre São Bento do Inhatá

Desenho da minha avó

O mercado era no meio da rua, havia um barracão muito grande. E a feira era bem movimentada. São Bento tinha várias festividades como a Festa de São João, o 2 de julho e 14 de setembro (Cruzeiro) que era uma festa muito grande organizada pelos donos da usina. Acontecia uma missa nesse dia e o padre benzia a usina, a locomotiva e as máquinas.

Dona Peró viu a Vila da Lapa (São Bento) ser emancipada e esteve presente na época da escolha do primeiro prefeito. Os candidatos eram Dr. Gervásio Bacelar e Sr Mario Souza. Esteve presente também na fundação do primeiro Jornal de São Bento do Inhatá montado por Elderico Cardoso; o jornal levava o nome de  Pimenta.

Sobre a Usina de São Bento

A usina moía a cana de açúcar. Nessa época São Bento era bem agitada, sempre tinha festa na usina. Quando a usina fechou, o movimento de pessoas caiu e viver de comércio ficou difícil. 

Minha avó possuía uma padaria nesse período, além de fabricar chouriça e carne do sol para vender aos funcionários da usina.

Alguns de seus trabalhos e atividades

Em Aliança, ela montou uma escola para adultos dentro da sua própria casa com os homens que trabalhavam na usina fazendo com que eles estudassem das 19 h ás 21 horas. O gerente da usina arrumou as cadeiras que durante o dia ficavam empilhadas dentro de sua casa. 

Juntamente com os irmãos, aos doze anos, ela plantou uma roça de fumo que segundo ela, era um produto que estava em alta na época, ou seja, 1934.

Ela confeccionava bonecas de pano, fazia charuto para vender, foi dona de uma agencia de bicicleta, de uma armazém, de uma padaria e de uma banca de jogo do bicho (quando ainda não era proibido).

Para finalizar essa parte do blog apresento um trecho do livro Memórias de uma menina risonha de Perolina da Costa Pinto Silva.

“Alguém há de perguntar: e na vida dessa menina, que só vivia sorrindo, até em presença da morte, nunca houve tristeza, preocupação, aborrecimento, desgosto, decepção, magoa? Ela responderá:
_Sim, houve tudo isso, mas eu que não sou boba, juntei tudo, fiz  um pacote bem fechado e  enterrei em um buraco bem fundo.  Então nada disso existe mais. Mas hoje o meu coração é pequeno para tanto amor.”




AVE-MARIA DO INHATÁ


Escorre o verbo
Escorre o verso
Escorre o dia

Caminha o gado
Corre o sineiro
Acendem luzes


Sacode o sino
acaba o baba
Correm meninos
... pra padaria
saquinho na mão
- Sim: pão quentinho,
gás, bolachão

Café cuando
rádio rezando
Velhas caladas
Pouca folia

Escorre o verbo
Escorre o verso
Lá foi um dia.


 Antônio Fernando Pinto

Amélia Rodrigues e São Bento




Praça de São Bento


Com o transporte de gado do interior para a capital, os tropeiros acabavam construindo uma rota (estrada) fixa e como os bois são animais mais lentos que os cavalos, por exemplo. Os tropeiros precisavam fazer várias paradas durante a viagem esses pontos de descanso, normalmente um local com recursos hídricos que serviam para recarregar as energias, comer, conversar e descontrair. Seguindo nessa linha, esses pontos regulares de descanso aos poucos eram transformados em locais de encontro para diversão, logo surgiam pequenas casas, vilas até formação de uma cidade. Muito provavelmente São Bento do Inhatá surgiu, bem com muitos distritos a partir das paradas dos tropeiros. Podemos perceber que anteriormente era chamado de arraial da Lapa.

Praça de Amélia Rodrigues

O município de Amélia Rodrigues, nome este dado em homenagem a poetisa e professora, foi criando em 1961, um dos desmembramentos de Santo Amaro. Entretanto muito antes de possuir esse nome o município passou por diversos  acontecimentos interessantes que levaram a isso. São Bento também passou por mudanças de nome ao longo de sua trajetória. 

O governador da época Dom Diogo Meneses distribuiu as terras em que se localiza São Bento para os irmãos portugueses Luís Vaz de Paiva e Manoel Nunes de Paiva ganhando então uma das sesmaria, um terreno que pertencia a Coroa e tinha como objetivo o desenvolvimento das atividades agrícolas. Algum tempo depois Manoel de Paiva cedeu suas terras ao Mosteiro de São Bento da Cidade do Salvador. Em 1944 o arraial da Lapa mudou de nome para Traripe referente a um rio que passa pelo local, Traripe é um nome que até hoje minha avó e outros moradores ainda associam a Amélia Rodrigues.

Antiga usina de São Bento do Inhatá

São Bento do Inhatá foi o primeiro ponto povoado da região lá foi construído o engenho com o mesmo nome. Nessa época toda essa região fazia parte de Santo Amaro e a usina de São Bento fazia parte da legião de engenhos desencadeados pelo solo de “massapé” que é muito fértil e propício para a produção da cana de açúcar.

O nome São Bento do Inhatá foi ao que parece, colocado pelo fato das sesmarias terem sido doadas a um Mosteiro com esse nome tornando-se São Bento padroeiro do local e Inhatá que é uma palavra indígena para um tipo de palmeira que era muito presente na vila. O significado do nome é caminhos da água corrente. Podemos então relacionar isso ao rio Traripe que cortava o arraial da Lapa. 

Recôncavo

Desenho feito pela minha avó

A presença francesa era ameaçadora, desde os primeiros momentos da exploração do Brasil, os franceses tinham um interesse muito grande de conquistar e colonizar o Brasil e os holandeses também. Esse foi um dos motivos principais para o governo português povoar o recôncavo protegendo-se dessas invasões.

De acordo com Rosário (2005) a primeira expedição com o propósito de combater os franceses pelo litoral ocorreu em 1526 tendo Cristóvão Jacques como comandante. Nessa época o rio Paraguaçu era o principal meio de acesso ao interior do Recôncavo Baiano e servia de transporte para os produtos agrícolas da região.


Ferrovia de Cachoeira até Feira de Santana 

Ao sul a rota do litoral do Rio Paraguaçu foi administrada pelos descendentes de Antônio Guedes de Brito, ou seja, isso inclui a região de Santo Amaro da Purificação e Cachoeira. Conforme apresentado por Matta (2013) os Guedes de Britto pertenciam a Casa da Ponte, da mesma maneira que a Casa da Torre¹ eles se puseram a desenvolver a criação de gado. Esse gado ia a pé pelas estradas dos tropeiros² e com o tempo outros produtos também começaram a serem transportados.

Nesse período foram criados os currais e a partir deles surgiam os arraiais. Matta (2013) faz a descrição de um arraial e se pararmos para analisar se encaixa completamente com a formação de São Bento do Inhatá e com Amélia Rodrigues também.

“O Arraial, em geral era um amontoado de casinhas pequenas, ladeadas e centralizadas por um largo no qual se dava o principal das relações cotidianas, e para o qual estava geralmente voltada a frente da igreja, a frente da casa do arrendatário, algum possível pequeno comércio,venda ou fábrica de couro, ou de outra coisa.” (MATTA,2013 p. 49)

Com essa citação nos aproximamos da história de Amélia Rodrigues e São Bento do Inhatá locais, em que minha avó viveu por muitos anos e até hoje residem familiares e amigos próximos. Porém antes de adentrarmos na história do município de Amélia Rodrigues precisamos fazer uma breve apresentação de uma cidade, além de Salvador de quem sofreu forte influencia.


Santo Amaro da Purificação


 Santo Amaro da Purificação teve um crescimento absurdo na produção açucareira, com cerca de 60 engenhos. No século XVII os senhores de engenho faziam parte do grupo dominante da sociedade açucareira, considerando-se como “nobreza da terra”.  E de fato nessa época os senhores exerciam um poder sobre a localidade fazendo valer seus desejos. Portanto Santo Amaro com esse número considerável de engenhos conseguia ter um domínio sobre as vilas e arraiais da região.





¹Segundo Matta (2013) a Casa da Ponte e Casa da Torre eram duas organizações senhoriais que acabavam por ser fronteira uma da outra de tão extensas que eram.


² Tropeiros  eram condutores de tropas de animais que também transportavam alimentos e utensílios como cereais, carne seca, cacau, couro entre outras coisas.

Salvador e sua importância

Salvador

Nascia em 29 de março de 1549 a cidade de Salvador, primeira capital brasileira localizada estrategicamente como uma fortaleza natural, sua geografia favorece a defesa, especialmente pela baía de Todos os Santos que fica a oeste com uma visão ampla para se defender dos ataques de piratas por mar que aconteciam na época. Assim foi constatada a importância de se fortificar a cidade; baluartes foram construídos e mais tarde dois fortes fechando as tentativas de invasão pelo mar.

Salvador se tornou para Portugal um ponto estratégico de defesa e comercio, aonde a qualquer momento Portugal poderia intervir de maneira rápida, com isso, a cidade foi fundada com uma grande quantidade de militares, ficando sob-responsabilidade do Governador Geral, Tomé de Souza armar a capital, os engenhos dos arredores, além de combater os indígenas e o comércio “ilegal” do pau-brasil.

Desenho da Baía de Todos os Santos 

Outra questão que faz de Salvador uma cidade tão importante foi seu comercio que fez dela em um determinado período centro do governo português. Chamada de Carreira das Índias foi a ligação marítima entre Lisboa e Goa, um estado da Índia e nesse contexto Salvador sérvio como ponto de intercâmbio de Portugal com diversos portos da África, da Índia e de outros locais como Macau, Timor e Cantão.


Elevador Lacerda antigamente

Os três principais produtos exportados eram o cacau, açúcar e fumo, além do tráfico negreiro. Com o bloqueio continental de Napoleão em 1808 a comercio em torno do Brasil se intensificou, Salvador crescia de forma assustadora. Lembrando ainda, que a cidade já nasceu como uma metrópole, de acordo com Almeida só de soldados para defendê-la possuía 2.000 mil e em 1640 a população estimada era de 10.000 habitantes, formando uma sociedade organizada, porém com esse número elevado de moradores Salvador dependia de forma direta do Recôncavo pra ser abastecida.